29 de março de 2010

Everything starts today

Quase sempre, é assim que gosto de começar um dia: crendo que ele será o primeiro, que os problemas de ontem não existirão hoje, que as dores de ontem terão ficado nos sonhos da madrugada e que oportunidades novinhas em folha estarão me esperando na soleira da porta. Seria muito bom começar de novo. Mas, infelizmente, em muitos assuntos, não é assim que funciona. E as cicatrizes de ontem nos tornam um pouco mais bizarros hoje, um pouco mais tristes, um pouco mais experientes, um pouco mais sábios e um pouco menos ansiosos.

Para esses dias em que tudo que você quer é se tornar uma tábula rasa, uma folha em branco (e talvez uma aviãozinho de papel que saia voando sabe-se lá pra aonde), o ideal é estar só. Dividir refeições é ótimo, mas, de vez em quando, o bom mesmo é olhar para si, não ter ninguém sentado na sua frente, e degustar uma refeição se fitando nos olhos, através do espelho.

Para esses dias, recomendo um risoto de funghi porcini. Tem gosto de terra, de verdade, de coisas palpáveis, fortes e originais. De coisas essenciais. É bem fácil:

Base do risoto de sempre (azeite, cebola refogada, arroz arbóreo e vinho branco). Tudo regado, com paciência, com o caldo resultante da hidratação do funghi, temperado com sal e pimenta.

Os cogumelos cortadinhos devem ser adicionados depois, mais ou menos no meio do processo.

Manteiga e queijo parmesão ralado na hora são o para o final, quando o arroz estiver bem cremoso e ao dente. Não esquecer de acertar a pimenta e o sal.

Guster para acompanhar.

17 de março de 2010

A torta das certezas

Como ter equilíbrio entre o eterno e o efêmero, entre o superficial e o profundo? Será possível enxergar além do agora, e tomar uma decisão pensando nos anos que vão se seguir, muito além do presente? E se... Morrermos? Mudarmos de cidade? De convicção?

“Deus plantou a eternidade no coração homem”, nos diz o grande sábio no livro bíblico de Eclesiastes. Seria, então, essa sementinha de eterno, esse pó de estrelas, que não nos deixaria sucumbir aos horrores do presente, à desesperança do agora?

Não sei. Não tenho a menor idéia. Mas tem dias em que tudo que queremos é ter respostas. Definitivas, peremptórias, eternas e imutáveis. Para as questionarmos todas na manhã seguinte. No entanto, seja lá como for, na falta de certezas sobre o futuro, nada mais reconfortante do que a segurança de que estamos bem, pelo menos, agora.

A receita de hoje talvez seja, quem sabe, a materialização da vontade de que pelo menos o presente seja bom. Torta de alho-poró com tapenade e queijo de cabra. Melhor do que isso, nem sei o que.

Para a torta:
Massa folhada comprada pronto no supermercado
4 a 5 talos de alho-poró (se forem grandes, só três é suficiente)
2 colheres de sopa de oleo de oliva
1/2 colher de chá de tomilho
sal e pimenta
1/3 de xícara de vinho branco
Uma receita de tapenade
Fatias de queijo de cabra (o melhor queijo do mundo) cortadas mais ou menos finas, o suficiente para cobrir toda a área da massa

Para fazer, cubra a vasilha com a massa folhada, faça vários furos com o garfo e coloque no forno por 10 minutos. Nesse meio tempo, refogue o alho poro cortado em rodelas por cinco minutos, depois acrescente o azeite, o tomilho, sal e a pimenta. Adicione o vinho e deixe tudo no fogo até que o álcool evapore. Depois é só montar a torta: primeiro a camada de tapenade, depois a de alho-poró e, por último, o queijo de cabra. Volte a torta pro fogo e cozinhe por mais uns 15min, ou até o queijo ficar moreninho.

Agora, sim, a receita da Tapenade:
20 azeitonas sem caroço (pretas ou verdes, como você preferir)
uma colher de sopa de alcaparras picadas, sem o caldinho
Uma colher de suco de limão
Duas colheres de azeite de oliva
Meia colher de pasta de anchovas (bastante opcional)
Pimenta do reino moída na hora, pelamordedeus
Eu passo tudo rapidinho no liquidificador, pra garantir que está homogêneo

Apesar de efêmero, o prazer é garantido.