Quase sempre, é assim que gosto de começar um dia: crendo que ele será o primeiro, que os problemas de ontem não existirão hoje, que as dores de ontem terão ficado nos sonhos da madrugada e que oportunidades novinhas em folha estarão me esperando na soleira da porta. Seria muito bom começar de novo. Mas, infelizmente, em muitos assuntos, não é assim que funciona. E as cicatrizes de ontem nos tornam um pouco mais bizarros hoje, um pouco mais tristes, um pouco mais experientes, um pouco mais sábios e um pouco menos ansiosos.
Para esses dias em que tudo que você quer é se tornar uma tábula rasa, uma folha em branco (e talvez uma aviãozinho de papel que saia voando sabe-se lá pra aonde), o ideal é estar só. Dividir refeições é ótimo, mas, de vez em quando, o bom mesmo é olhar para si, não ter ninguém sentado na sua frente, e degustar uma refeição se fitando nos olhos, através do espelho.
Para esses dias, recomendo um risoto de funghi porcini. Tem gosto de terra, de verdade, de coisas palpáveis, fortes e originais. De coisas essenciais. É bem fácil:
Base do risoto de sempre (azeite, cebola refogada, arroz arbóreo e vinho branco). Tudo regado, com paciência, com o caldo resultante da hidratação do funghi, temperado com sal e pimenta.
Os cogumelos cortadinhos devem ser adicionados depois, mais ou menos no meio do processo.
Manteiga e queijo parmesão ralado na hora são o para o final, quando o arroz estiver bem cremoso e ao dente. Não esquecer de acertar a pimenta e o sal.
Guster para acompanhar.
3 comentários:
Se a receita for tão boa quando o texto é bonito, será um manjar de deuses...
Também estou nessa fase, antes só do que mal-acompanhado. Na verdade, tem fase em que mesmo as boas companhias não suprem a nossa necessidade de silêncio, de contemplação, de reflexão, ócio... Ficar olhando para o texto numa sexta à noite tem a sua graças (desde que uma Nina Simone esteja tocando, claro... :)
E é sempre bom lembrar Jorge Ben, que nos mostrou que com uma rosa/
E o cantar de um passarinho/
Nunca nesse mundo se está sozinho.
beijos e parabens pelo texto e o blog!
Fala, moça!
Gostei muito do texto, da sugestão de prato e da receita...
Mas acordar vendo um dia cheio de possibilidades, de "oportunidades novinhas em folha", é ótimo mesmo e não é incompatível com a existência de marcas deixadas por eventos passados...
Beijos,
Mari!!
Não é que preparei o mesmo risoto na semana passada?
Tocava quase Nina Simone, mas o sentimento não era o mesmo. De repente é olhando os espelhos de ontem que começamos de novo.
Bisou
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