6 de fevereiro de 2008

Obrigada, Valdivino!

Há na vida - pensam alguns - experiências libertadoras: ir ao cinema numa terça à noite, tomar um sorvete no meio da manhã, fazer uma tatuagem, gritar na rua, ler Sartre. Já me recomendaram algumas,e e eu, também, recomendei a alguns outras. Hoje passei por uma experiência dessas, de forma inesperada. Comprei um sapato numa loja e acabei ganhando uma massagem expressa, daquelas que você precisa sentar numa cadeira estranha numa posição um tanto quanto constrangedora, com o rosto virado pra baixo. Pensei no horário, em tudo que ainda precisava fazer. Apesar disso, resolvi dar uma chance ao aprendiz de massagista, o Valdivino, um garoto carente que participa de um programa social nessa tal rede de varejo de calçados.

Entrei em alfa cinco segundos depois de ele ter começado a massagem. Meu corpo estava lá, na cadeira, mas minha mente tinha viajado por milhares de quilômetros no tempo e no espaço. Pensei no enterro ao qual fui ontem, pensei na morte, pensei nos quatro filhos que gostaria de ter, pensei em quanto adoro economia, em quanto amo literatura, escrever, chorar, beijar na boca. À medida que ia relaxando, os pensamentos iam invadindo meu cérebro, minha alma. Virei só essência durante aqueles breves minutos que passei ali na cadeira da massagem. O Valdivino não tinha idéia do bem que me estava fazendo.

Quando ele terminou, sorriu e pediu que eu preenchesse uma ficha de avaliação. Dei uma olhada nas opiniões que haviam sido escritas acima da minha, por outras clientes: “perfeita”, “maravilhosa”, “esplêndida”. A minha opinião podia ser, claro, apenas uma: “libertadora”. Agradeci ao Valdivino e vim direto pra casa, atualizar o blog. Li o “Himno a la Celulilitis”, conteúdo do meu primeiro post, nos idos de 2006. E resolvi que, daqui pra frente, vou receber mais massagens e tomar mais sorvetes fora de hora.